Aulas de desenho histórico, pintura histórica, escultura, arquitetura civil e naval, gravura histórica
ANO | 1836 | |||||
REGULAMENTAÇÃO | 1836.11.22 – Decreto / Secretaria de Estado dos Negócios do Reino Criação da Academia Portuense de Belas-Artes e aprovação dos respectivos Estatutos. Colecção de leis e outros documentos oficiais publicados desde 10 de Setembro até 31 de Dezembro de 1836. 6ª série. 2ª ed. Lisboa : Imprensa Nacional, 1930. p. 89-93. | |||||
FONTES CONSULTADAS | Conferência de 31 de Janeiro de 1844. Francisco António da Silva Oeirense. Lente de Desenho Histórico e de Gravura. (extraído do maço 49 e livro de actas 105); Conferência de vinte e nove de Fevereiro, de mil oitocentos e quarenta e quatro, Manuel da Fonseca Pinto, Lente de Escultura. Conferência de 30 de Março de 1844. (AFBAUP 49; AFBAUP 105, fls. 89 verso – 90). | |||||
CONDIÇÕES DE ACESSO | Os candidatos tinham que reunir as seguintes condições: 10 anos pelo menos completos; saber ler, escrever e contar; bons costumes atestados pelo Pároco… | |||||
ESTRUTURA | O curso regular de qualquer das Aulas Académicas é de 5 anos | |||||
OBSERVAÇÕES GERAIS | Para que um maior nº de pessoas pudesse frequentar as aulas foram criadas 2 classes de discípulos: uma de ordinários que frequentariam as aulas quotidianamente; uma de voluntários que não podem ter igual frequência e assiduidade; Nenhum discípulo seria admitido nas aulas de pintura e escultura sem mostrar habilidade para o desenho |
AULA DE DESENHO HISTÓRICO
ANO | NOME DA CADEIRA | Nº E PARTE | Nº DE HORAS | NOME DO DOCENTE | CONTEÚDO PROGRAMÁTICO |
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1º | 3 a 4 horas | Francisco António Silva Oirense | Contornarão todos os dias até ao Natal elementos do Desenho; passado o Natal contornarão hora e meia, e assombrarão outra hora e meia: no fim do ano desenharão para Exame um contorno de figura inteira, e estudarão neste ano perspectiva, e farão também exame, e os que ficarem aprovados em ambas as matérias passarão ao 2º ano. | ||
2º | Desenharão por espaço de hora e meia dorsos e figuras inteiras, nuas ou vestidas; noutra hora e meia contornarão gesso até ao Natal, e dai em diante assombrarão: no fim do ano desenharão para exame uma figura inteira nua, ou vestida. Neste ano estudarão anatomia, e farão exame e os que ficarem aprovados em ambos os exames passarão ao 3º ano. | ||||
3º | Desenharão gesso hora e meia, noutra hora e meia contornarão composições de autores clássicos indicando-lhes as sombras gerais; frequentarão a Aula do Nu, na qual contornarão pelo modelo vivo nos meses de inverno, e passarão assombrar nos meses de verão; serão obrigados a desenhar em cadernetas o que observarem no natural nos lugares de concorrência. No fim do ano desenharão para exame uma cabeça de gesso. Neste ano frequentarão como obrigados o 1º ano de arquitetura e de Escultura. | ||||
4º | Continuarão a desenhar o gesso hora e meia cada dia, e na outra hora e meia contornarão composições clássicas indicando-lhes as sombras gerais; serão obrigados a desenhar em cadernetas quanto observarem de bom, nos grupos que aparecerem nos lugares de concorrência, e frequentarão a Aula do Nu, e no fim do ano desenharão para exame uma estátua de gesso. Neste ano frequentarão como obrigados o 2º ano das Aulas de Arquitetura e de Escultura | ||||
5º | Continuarão a desenhar gesso, desempenharão em casa assuntos de invenção dados pelo lente; frequentarão a Aula do Nu, continuarão a desenhar nas cadernetas, e no fim do ano desenharão para exame uma figura académica pelo modelo vivo, e uma estampa historiada. Neste ano frequentarão, como obrigados o 3º ano das aulas de Arquitetura e de Escultura. |
AULA DE PINTURA HISTÓRICA *
ANO | NOME DA CADEIRA | Nº E PARTE | Nº DE HORAS | NOME DO DOCENTE | CONTEÚDO PROGRAMÁTICO |
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1º | | | 6 horas verão 5 horas inverno | Joaquim Rodrigues Braga Lente de Pintura Histórica, e de Anatomia, Perspectiva e Óptica. | Explicações sobre a inteligências da boa ou má atitude das figuras e sobre o que é correcção – explicações sobre os usos e costumes relativos aos tempos e lugares – distribuição e propriedade dos acessórios em um quadro – explicações sobre o valor ou força relativa das cores entre si e sua decomposição – dar líquidos, óleos e vernizes próprios para a pintura – cópia dos bustos e estátuas em papel de cor. Para concurso do primeiro ano a cópia de uma cabeça ou busto a claro-escuro a óleo (a mesma para todos). Os aprovados tendo frequência recebem um atestado do secretário da Academia e serão publicados em gazeta. |
2º | | | | | Lições de óptica e de boas ou más direções da luz enquanto copiam objetos do natural agrupados juntamente – explicações das várias escolas de pintura que tem havido – copiar cabeças coloridas a óleo – estudo em frente dos perfeitos esquiços dos grandes mestres para se habilitarem a inventar e a compor quaisquer motivo – estudo sobre o modelo vivo pintado e sobre as estátuas em papel de cor. Para concurso uma cabeça de expressão para todos pelo modelo vivo, acabada à primeira em quatro horas; os aprovados recebem coroa de louvor serão publicados na Gazeta. NB os estudo de anatomia perspectiva e óptica tem lugar na última hora da aula. |
3º | | | | | Estudo do colorido nas horas do nu de dia – explicações sobre as regras da composição e invenção, confrontando as estampas dos gravadores dos grandes mestres neste ramo da arte. Copiar em colorido, dito de pregas pelo manequim – copiar dos quadros historiados – fazer esboços coloridos de próprias invenções sobre motivos dados nas Aulas para todos. Para concurso uma academia colorida em frente do modelo vivo durante o estudo de uma semana – os aprovados recebem em presença de todos em conferência uma coroa de louvor [e] são elogiados nas folhas pelo mérito patenteado. |
4º | | | | | Continuação do estudo do colorido sobre o nu, composição de diversos motivos pictóricos ou fabulosos com fundos de paisagem ou arquitetura – continuação das regras da invenção dito dito [confrontando as estampas dos gravadores dos grandes mestres neste ramo da arte] cópia de quadros historiados – prova ao fim dos primeiros seis meses em cinco horas um esboço de um motivo histórico tirado à sorte para todos – os aprovados entram no fim do ano no concurso da meia figura copiada do nu em tamanho natural no tempo de duas semanas – os aprovados recebem em conferência uma coroa de louvor, a sua obra é coroada com o nome do estudante no meio do dita coroa e fica na Academia, e são publicados. |
5º | | | | | Estudo do colorido e no que consiste o bom gosto de tinta e o bom colorido. Estudo do nu em colorido nas horas das aula da manhã – provas de composição e invenção de assuntos históricos ou fabulosos – o ter noção sobre a sua ordem e sobre os usos e costumes das diferentes nações – prova para o fim dos seis meses o esboço do quadro histórico tirado à sorte que deve apresentar no fim do ano o mesmo para todos: os aprovados conforme com as regras da arte feitas no tempo de seis horas incomunicáveis vão começar logo o seu quadro do concurso que deve ser feito dentro da aula e que devem apresentar acabado ao fim do ano – os dois melhores são coroados com o nome do estudante; estes recebem em sessão pública uma coroa de louro verde com bagas douradas que conservarão na cabeça durante a sessão, são publicados nas folhas e recebem o seu diploma de mérito pela conferência e são recomendados para conforme o que determinam os Estatutos irem estudar a Roma por conta do Estado. NB sobre o modo de distribuição dos concursos anuais e da cortesia dos prémios a Conferência fará o que melhor entender. |
AULA DE ESCULTURA
ANO | NOME DA CADEIRA | Nº E PARTE | Nº DE HORAS | NOME DO DOCENTE | CONTEÚDO PROGRAMÁTICO |
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1º | 6 horas verão 5 horas inverno | Manuel da Fonseca Pinto | Copiar em barro extremidades e frequentar a aula do nu onde desenharão o modelo vivo; no fim do ano copiar para exame uma extremidade; | ||
2º | Continuação do estudo de extremidades até dorsos; frequência da aula do nu onde desenharão o modelo vivo; no fim do ano copiarão para exame um dorso ou meia figura; | ||||
3º | Continuação do estudo dos dorsos até estátua inteira; iniciação do trabalho em baixo-relevo alternadamente; frequência da aula do nu onde desenharão o modelo vivo; copiarão neste ano para exame uma Estátua; | ||||
4º | Continuação do estudo das estátuas e do baixo-relevo alternadamente; frequência da aula do nu onde copiarão em baixo-relevo o modelo vivo. Neste ano o Lente explicará o modo de modelar em cera e estuque; no fim do ano copiarão para exame uma figura em baixo-relevo pelo modelo vivo; | ||||
5º | Continuação do estudo das estátuas; farão em baixo-relevo composição de invenção; frequência da aula do nu com modelação em baixo-relevo do modelo vivo; neste ano o Lente fará conhecer o método de cortar na madeira e no mármore. No fim do ano copiarão para exame em baixo-relevo o modelo vivo e farão uma composição de invenção na forma estabelecida no Estatuto para os concorrentes aos prémios. |
AULA DE ARQUITETURA CIVIL**
ANO | NOME DA CADEIRA | Nº E PARTE | Nº DE HORAS | NOME DO DOCENTE | CONTEÚDO PROGRAMÁTICO |
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1º | | | 3 a 4 horas nov., dez., jan. 2 horas/dia | Joaquim da Costa Lima Júnior; Manuel Moreira da Silva (Lente substituto) | Nos meses de outubro, nov. dez. jan. e fevereiro Estudo das ordens gregas e romanas pelo curso de Mr. Blondel: Explicação dos diversos autores a este respeito: análise crítica das mesmas ordens: cópia seguida de boas estampas: – Aritmética e Geometria Março, abril e maio Fases trigonométricas sobre o terreno à prancheta: Delineação da carta topográfica: – explicação dos instrumentos mais seguidos neste género de trabalho – continuação não interrompida do estudo das ordens: – Aplicação da prancheta, e bússola assimetral à direção e exploração das minas. Junho, julho e agosto Continuação do estudo das ordens: – Ensaios da sua aplicação a programas da escolha do Discípulo: – Geometria, e História da Arte. |
2º | | | | | Outubro, novembro, dezembro, janeiro e fevereiro Análise especial sobre o caracter de cada Ordem: Modificações que as mesmas podem sofrer segundo a variedade de circunstâncias: – cópias seguidas das mesmas: – Ensaios de distribuição – iconográfica. Março, abril e maio Repetição de fases trigonométricas à prancheta, e grafómetro: – Praxe e teoria do nivelamento sobre o terreno: – Nivelamento geral pelo cálculo: – Confirmação de ensaios sobre distribuição: – cortes, alçado… Junho, julho, agosto Explicação sobre a arte de construir propriamente chamada, compreendendo a ciência geral da monteia de toda a espécie de abóbadas, arcos, escadas pensil lunetas, persinas não praticadas e demonstradas: – teoremas gerais da mecânica, teoremas gerais de óptica. |
3º | | | | | Outubro, novembro, dezembro, janeiro e fevereiro Continuação sobre princípios de óptica: Aplicação das principais regras de hidráulica: – Aplicação das mesmas à condução de águas para fontes, depósitos públicos, chafarizes, etc. Explicação do modo de juntar sobre terrenos pantanosos. Março, abril e maio Modos práticos de construir sobre estacaria: – Explicação dos diversos modos de estacar: – Explicação da qualidade das madeiras mais próprias para esse uso: – repetição das fases trigonométricas. Junho, julho, agosto Recordação sobre a geometria: continuação sobre a ciência do aparelho: – regras gerais da monteia: distribuição iconográfica. |
4º | | | | | Outubro, novembro, dezembro, janeiro e fevereiro Continuação do estudo das ordens: Dissertações acerca do Belo essencial, do Belo por classificação, e do Belo ideal, segundo o sentimento dos escritores mais profundos – Diderot, Wolf, Pope, Hutchéson: Programas obrigados. Março, abril, e maio Transcrições de caracter: – das formas essencialmente consagradas à decoração dos templos, dos palácios, dos túmulos, das prisões públicas. Junho, julho, agosto Programas da invenção de toda a natureza: estudo seguido das ordens: – recursos possíveis que a arte autoriza, quando ocorrências forçosas excluem a admissão da severidade das regras. |
5º | | | | | Este último ano será destinado à recopilação das matérias tratadas nos anos precedentes: à sua aplicação a objetos de última transcendência como ao desenvolvimento de vários programas relativos à preconização de factos mais salientes da História Portuguesa: à concepção de monumentos de toda a espécie, elevados pela gratidão, pela saudade, ou pela magnificência; à rigorosa análise do caráter análogo a cada género: – A decoração e plantação de cemitérios públicos, com investigações físicas relativas à sua salubridade; à ereção cenotáfios, sarcófagos, catacumbas, lápides cinerárias – e finalmente terminará com diversos projetos para o progressivo melhoramento da cidade do Porto, em exames sobre os modos, mais ou menos convenientes de a argumentar, e para que parte dos seus subúrbios: – Análise das disposições locais que oferecem os mesmos subúrbios para a sua ampliação, e ultimamente com algumas observações sobre a construção de Enseadas, Cais, Docas, e das necessárias comunicações entre Foz – Leça – e Póvoa do Varzim, ao longo da costa. Seguindo esta marcha, que é sem dúvida a mais curta, e a mais natural na aquisição dos variados princípios. |
*a partir de 1841 integra anatomia, perspectiva e óptica
**A partir de 1841 passa a designar-se de arquitectura civil