FBAUP celebra o Dia Mundial do Livro – 23 de abril 2021

Os livros que marcaram o corpo docente em ano de pandemia

É difícil de acreditar que já se passou um ano desde que apareceram os primeiros casos de COVID-19.

Num momento em que a palavra mais ouvida e falada é pandemia, em que as aulas passaram a ser online e os contactos físicos limitados, o refúgio e escape de muitos foi a leitura, à qual puderam dedicar mais tempo. Aproveitando as celebrações do Dia Mundial do Livro, lançamos um desafio aos docentes da FBAUP – que nomeassem o livro que os fez refletir, que os marcou neste ano tão atípico e que numas breves palavras justificassem porquê…

Antero Ferreira

CORON, Antoine. Des livres rares depuis l’invention de l’imprimerie

Num momento raro como o atual, de retiro e isolamento mundial, nada como a leitura de uma magnífica edição sobre livros raros, resultado de uma exposição organizada, em 1998, pela prestigiada BnF em Paris. Esta obra, de irrepreensível design editorial e apurado rigor científico, dá-nos o prazer de conhecer 243 raridades impressas que marcaram a história da leitura, do pensamento, da imprensa e da tipografia, desde o nascimento da dita Arte Negra (séc. XV) até aos anos 60 do séc. XX.

(nota: esta edição, agora revista e corrigida, teve a sua primeira edição em 1998)

Camila Mangueira

BENJAMIN, Walter. Passagens

Agradeço a oportunidade de partilhar um dos livros que mais me marcou em 2020. O eleito é a obra “Passagens” de Walter Benjamin, e a escolha responde especialmente pela experiência provocada por sua releitura no período. Foi no paradoxo de viver dias de incerteza, dentro de um espaço cotidiano sem variações, que o livro Passagens permitiu manter a imagem da cidade em movimento e o olhar ampliado sobre as coisas. Na ocasião, resolvi por experimentar os efeitos potenciais do seu caráter fragmentário como projeto através de percursos de leitura distintos da previsibilidade estrutural da edição. Artifício para escrever e armazenar notas e ideias que acabaram por registrar os momentos de encontro entre o pensamento benjaminiano e os acontecimentos diários. Seja para uma leitura sistemática ou mesmo para aquela que dele faz jogo, recomendo essa monumental e desafiante obra para o mistério do que lhe é contemporâneo.

Cristina Ferreira

SENNETT, Richard. The Craftsman

Numas breves palavras posso dizer que um ano em que fomos submersos pelas tecnologias, pelos ambientes virtuais, pelas relações à distância, ler este livro lembrou-me da importância do fazer bem do artífice. Sennett estende o conceito de trabalho manual qualificado às mais diversas profissões (informáticos, médicos, cozinheiros, entre outras) afirmando que, em qualquer das áreas a que nos dediquemos, podemos aprender muito com o trabalho feito pelas nossas próprias mãos. Num período em que tivemos presos aos teclados e ecrãs dos computadores, a ideia de ser um bom artífice constitui algo especial.

Emílio Remelhe

MONTENEGRO, J. Peres. Vocabulário ortográfico prosódico e remissivo da língua portuguesa

Escolhi este livro por três razões. A primeira, porque talvez tenha sido um dos volumes que mais folheei nos últimos tempos, no vício de mexer em livros velhos, novos e assim-assim. A segunda, porque os dicionários, os vocabulários, os elucidários, os glossários… são, para além das funções (re)conhecidas, bons candidatos, no meu caso, a uma boa maneira de perder tempo e de ganhar não sei bem o quê, mesmo que o saiba. A terceira, porque este exemplar me foi oferecido, antes do isolamento, por uma grande amiga. 

Hélder Gomes

MURNANE, Gerald. As Planícies

É um pequeno romance, provocador e reflexivo, que questiona as relações entre a realidade e a representação. Situado no interior ficcionado do continente australiano, o livro introduz-nos a uma cultura singular, atenta aos mais ínfimos pormenores da percepção. Em termos narrativos, conta-nos a experiência de um cineasta que se propõe filmar a essência dessa cultura e se confronta com os limites da própria ideia de representação.

Inês Moreira

MOREIRA, Inês (ed.). Post-nostalgic knowings

Uma publicação que marcou, para mim, o período da segunda vaga da pandemia foi o ultimo livro que editei denominado Post-Nostalgic Knowings. Além de ser uma oportunidade de passar um projeto a papel com apoio de uma equipa empenhada, o livro refere-se a uma experiência cultural e pedagógica realizada em 2019, antes da pandemia, e que, por ser internacional, relacional, imersiva e depender do contexto social e físico, bem como dos convidados estrangeiros que viajaram para Portugal, hoje seria hoje impossível repetir – paradoxalmente, é uma nostalgia do tempo do curso sobre Práticas Pós-Nostálgicas (!). Os cursos Plaka são programados pelo Município e consistem no convite a dois curadores, um português e um estrangeiro, a organizar um curso de pensamento crítico e arte contemporânea. Neste, convidámos autores de países do Báltico a explorar a zona do Freixo numa perspetiva pós-nostálgica. O nosso programa incluiu workshops, conferências, caminhadas e resulta num glossário coletivo e num mapeamento coletivo da zona oriental do Porto. O livro documenta e expande esta experiência. Saiu da gráfica no final de Janeiro 2021 (eu já o vi) e será lançado ainda antes do Verão de 2021.

Joana Rêgo

KARPELES, Eric. Paintings in Proust: a visual companion to in search of lost time

Torna-se difícil, num ano em que houve mais tempo para outras leituras, selecionar apenas um único livro, mas este desafio fez-me refletir no que tinha lido e daí tentar escolher apenas um e justificar o porquê….Seleciono então o livro “Paintings in Proust: a visual companion to in search of lost time” de Eric  Karpeles, editora Thames & Hudson, 2008 que estava parado há já algum tempo, à espera de alguma calma para o ler… A obra de Proust, “À procura do tempo perdido”, sendo uma obra literária tão profundamente visual, com detalhadas descrições de pessoas, seus costumes e arte, está cheia de referências a obras de arte, pinturas e pintores e neste livro que aqui selecionei, Eric Karpeles acaba por criar um guia bem ilustrado e detalhado sobre a relação criada entre a arte literária e visual na obra de Proust, embrenhando-nos numa série de detalhes, notas, comentários relacionados com esta riquíssima coleção de obras que Proust levou para a sua obra. Ficamos com vontade de voltar a ler a obra de Proust e conseguirmos nós, viajar, com o auxílio desse guia tão elegantemente elaborado, por essa relação tão interessante que se cria nesta obra entre literatura e pintura.

José Carneiro

FERMOR, Patrick Leigh. Tempo de dádivas: uma viagem a pé

Editado em 1977, A Time Of Gifts é um livro que relata a primeira etapa de uma viagem a pé que o autor, Patrick Leigh Fermor, realizou entre Hoek van Holland, na Holanda, e Constantinopla, em 1933-1934. É o primeiro livro, de uma série de três, em que parte da história é dedicada à importância da caminhada e à capacidade de se aprender durante o seu decurso, neste caso, marcado pela vontade de sobrevivência a uma Europa em crise. Tempo De Dádivas: Uma Viagem A Pé, na tradução portuguesa, foi editado em 2020 e é o livro que destaco no primeiro ano da pandemia. Como nota final, e muito a propósito, fica a citação de Agostinho da Hipona impressa na contra-capa desta edição: O mundo é um imenso livro do qual aqueles que nunca saem de casa lêem apenas uma página.

Maria José Goulão

CHOLLET, Mona. Chez soi: une odyssée de l’espace domestique
RUBEN A. O Mundo à minha procura: autobiografia

Escolho dois livros, são duas obras que comprei recentemente, escolhidas quase ao acaso na minha pilha de leituras em andamento, e que refletem dois movimentos opostos: o voltar para dentro e o sair para o exterior. O livro da Mona Chollet, cuja aquisição foi anterior ao confinamento e que teve um carácter quase premonitório: é uma obra de uma jornalista, um ensaio sobre o lar e o espaço doméstico, nas suas ramificações sociais, privadas, imaginárias, coletivas. O segundo, de Ruben A., porque é um género de que gosto muito, a (auto-)biografia e o texto confessional e intimista, de um escritor infelizmente pouco conhecido das gerações mais recentes, que eu li com muito agrado quando era adolescente. Fiquei contente ao saber que tinham sido reeditados os 3 volumes iniciais, agora juntos num só.  Livro sobre a descoberta do mundo, das viagens e dos outros (formas maiores de nos descobrirmos a nós mesmos), contém a promessa da abertura que todos desejamos.

Miguel Carvalhais

NOË, Alva. Strange tools

O livro que provavelmente mais me marcou no último ano foi o “Strange Tools” do Alva Noë, que li em Maio ou Junho de 2020 e que me pôs em contacto com uma perspetiva sobre a arte e a relação com as obras de arte que me ajudou a cristalizar ideias que andava a trabalhar há algum tempo. A abordagem do Noë também encontra eco na pós-fenomenologia e no realismo especulativo (e/ou na ontologia orientada a objetos), linhas de investigação filosófica que se têm provado muito relevantes para a filosofia da arte.

Pedro Amado

CLAYTON, Ewan. The Golden thread

A escolha não é fácil. Neste ano de pandemia – apesar da complexidade da gestão do tempo familiar e profissional – foi possível revisitar leituras e obras que estavam aqui por casa. Algumas obras – entre monografias de alguns autores como a Maria Keil e José Brandão; teses de doutoramento como do Riccardo Olocco, ou álbuns de banda-desenhada de Schuiten & Peeters ou de Chris Ware que estavam ainda fechadas na estante. Apesar do ano ter sido, ou melhor, de ainda estar a ser longo! alguns ainda continuam por abrir (e nem falo das revistas em atraso em cima da mesinha de cabeceira). Também foi possível descobrir novas obras e autores. A descoberta de novos títulos nunca é fácil. Nisto o confinamento da pandemia acabou por ajudar. Houve inúmeros eventos nacionais e internacionais que passaram a ser ministrados online. Nomeadamente cursos e conferências. No meio destas atividades, a “lista de desejos” de obras de referência e títulos recém-publicados cresceu muito. Não só em número como em áreas de estudo que abrangem da caligrafia, como o manual da Sheila Waters. À programação criativa, como o livro do Golan Levin que teima em não chegar à Europa em formato físico…Mas, como o que foi pedido foi a nomeação de um livro, creio que a escolha é simples.

Não é fácil, mas é simples. Terei que recomendar “The Golden Thread” de Ewan Clayton.

Esta obra trata da evolução da forma da escrita alfabética ocidental, desde as suas origens pictográficas ao fenómeno cultural atual que é o grafiti. Uma obra que nos marca, não só pelo fôlego – são mais de 5000 anos de história de cruzamentos culturais com a evolução tecnológica do meio – mas, também pela forma como Clayton cruza as fronteiras entre a paleografia, a escrita e a tipografia. Professor de renome internacional, apresenta uma obra com um extenso suporte bibliográfico não só de fontes históricas, mas também de investigação recente na área, num texto que é leve e de leitura escorreita e, por mais incrível que pareça para um livro que relata eventos históricos dos quais sabemos o resultado, episódios verdadeiramente empolgantes. Creio que terei demorado entre 3 a 4 dias a conseguir ler, reler e sublinhar todas as suas 358 páginas da edição de formato de bolso.

Esta obra marcou-me essencialmente por dois motivos: permitiu atualizar alguns aspetos históricos que dava por adquiridos, como a origem da minúscula carolíngia, ou a forma como Gutenberg terá produzido as suas matrizes (mostrando que a história nunca está parada!); mostrar-me que a cultura da escrita – nomeadamente da caligrafia – não terminou no século XX. A caligrafia expressiva, escrita contemporânea molda e é moldada pelas correntes culturais contemporâneas. Clayton termina o livro frisando a importância do papel Grafiti na cultura atual, com quase tanto peso como a que as itálicas de Arrighi tiveram na época. Esta abertura para tratar os fenómenos de alta e baixa cultura, clássicos e atuais, formais e informais com igual dedicação e empenho foi refrescante. E mostrou-me que podemos e devemos estar abertos e preparados para os reconhecer e estudar. Como nota final, tenho que dizer que se trata de um livro de 2013. Apesar de me manter minimamente atualizado nesta área – uma das minhas áreas de investigação e desenvolvimento – , era um livro e um autor que ainda não tinha identificado. O que, de certa forma, mostra que não podemos dar as nossas fontes por adquiridas nunca. Há sempre um livro que ainda temos que descobrir….

Rui Santos

VALLEJO, Irene. O infinito num junco

Um livro sobre a histórias dos livros.

Rute Rosas

DAMÁSIO, António. Sentir & saber – a caminho da consciência

Mais palavras para quê?

Sílvia Simões

SONTAG, Susan. O Amante do vulcão

Um romance histórico, sobre um triângulo amoroso, a condição das mulheres, a arte, a política que se passa em Nápoles no século XVIII. Partilho com um dos protagonistas a mesma paixão; Vulcões.